8.4.09

Agora...


Antes...


Máscara de Entrudo

"Os acordes da música e a babel de vozes sobrepondo-se, aproximavam-se enquanto subíamos. No cimo um imenso mandarim de um metro e noventa vestido a preceito, agradecia a entrega dos convites, indicando-nos a porta da direita onde arrecadaríamos as vestes, chapéus e demais farpelas regulares, fora de propósito em uma folia de carnaval.


Depois era enfiar pela esquerda no pequeno hall de entrada, onde uma chusma de criaturas davam vivas ao seu ardor, sôfregas de tanta abstinência por anos e anos de jejum, sem um só baile no Clube. Aqueles bailes tinham o seu quê de engraçado, gerando um incontestável ambiente em desuso, é certo, mas assaz característico derivado talvez ao facto de não existirem nessas épocas bares e discotecas como os há derramados hoje em dia.


(...) Por lá circulavam os empresários de renome, e quando digo empresários refiro-me tanto aos dos serviços e fabricantes, como aos de âmbito agrícola. Porque nos tempos que correm é mal visto ser-se agricultor, e assim sendo todos se converteram em empresários. Também as profissões liberais que socialmente tanto brilham, como os médicos e os jornalistas, os advogados ou os artistas, em abundância assentavam arraiais ora pelos recheados salões, ora de cotovelos apoiados sobre convidativas mesas de jogo.




Fora de ritmo marchavam os militares de altas e menos alta patente, amostravam-se os comerciantes da cidade com a importância que lhes é devida, e desfilavam os políticos locais com ou sem tacho na altura, oriundos de quase todas as cores partidárias. Sublinho, de quase todas.




Notada era a presença de bastantes funcionários públicos, como não poderia deixar de ser. Antes de mais porque os há e havendo-os, é uma profissão como todas as outras. Dos juizes aos professores, passando pelas finanças, claro está. Os juízes não são funcionários públicos? Então quem lhes paga?




E porque para fazer uma sociedade é preciso de tudo um pouco, também por isso omnipresentes ao baile assistiam alguns membros do clero. Pois se estes não costumam dançar, nem saias já usam, ainda assim emprestam uma lustrosa venerabilidade circunstancial.




Por fim the last but not the least, os insubstituíveis aristocratas, raiando e distribuindo cada um a sua áurea e regras de etiqueta, gorjeando cada qual o seu brasão.


Pelo que se pode ver, um baile deste calibre nada tem de mal e até constitui uma sã actividade social, arrastando os cidadãos a acomodarem uma qualquer confiança entre si, em nada impedindo as línguas de se soltarem, assim se voltem as costas."

(Excertos de “Máscara de Entrudo”)

Terminado o entrudo deste ano, passámos directamente ao carnaval das eleições. Com a poluição de cartazes, candidatos e palavras jorradas ao vento, como folhas caídas.